Descrição
Cantar às Estrelas
Se as serenatas são um concerto vocal ou instrumental que se dá de noite em passeio, dedicadas a alguma dama, a um lugar, no nosso caso, à própria natureza, o “Cantar as Estrelas”, é uma tradição muito antiga, em honra da Virgem Maria, sendo, ainda hoje, em alguns lugares, comemorada por grupos que visitam amigos, conhecidos e parentes, cantando, pelas ruas, cânticos de louvor e de peditório.
São, em algumas localidades da ilha de São Miguel, como que o fecho da quadra natalícia, procedendo as famílias, só então, ao “desarmar” do presépio e da árvore de Natal.
Os instrumentos musicais que usavam estes grupos, eram a rabeca, a viola da terra e os ferrinhos, mas, com o andar dos tempos, com a falta de tocadores, foi-se-lhes juntando o violão, a guitarra portuguesa, o acordeão e até os mais variados instrumentos de sopro tocados por músicos que engrossavam as fileiras das tantas e tantas filarmónicas que começaram a proliferar por toda a ilha, muitas delas hoje centenárias.
O grupo traz sempre um cantador, por vezes improvisador, e outros 3 ou 4 ou mais que formam o coro.
Com as prendas recebidas (algum galo ou galinha, morcelas, chouriços…) preparavam lauta ceia para a qual eram convidados os cantadores, amigos e conhecidos.
Era assim antigamente.
Carlos Medeiros Sousa
Serenatas das Furnas
Por volta dos anos cinquenta do século passado, alguns elementos da FILARMÓNICA HARMÓNICA FURNENSE, percorriam as ruas das Furnas, após terminarem o ensaio. Visitavam casas de amigos, onde degustavam o popular licor de tangerina, durante três a quatro horas, terminando sempre com os instrumentos “super afinados”.
A ligação com emigrantes regressados do Brasil, fez com que novas melodias surgissem e passsem a fazer parte do reportório.
Por volta dos anos 50/60, surgiram as serenatas com vozes e instrumentos de corda, precedidas de uma lauta ceia que terminava nas águas minero-medicinais, para acelerar a digestão.
Nas Furnas, as vozes sempre foram muito afinadas. Com profunda facilidade, do grupo sobressaía, sempre, uma segunda voz ou um baixo que completava o naipe e que dava uma sonoridade excelente pela madrugada, no deambular pelas ruas.
João Viveiros, Manuel Pimentel, Viriato Costa, são as figuras ímpares na composição de letras e músicas, bem como nos arranjos instrumentais, sendo de realçar a inclusão do violino e do acordeâo.
Os grupos não eram formados, quase sempre, por homens, embora as mulheres, também participassem de forma exporádica.
À época, a partir da meia noite não existiam mirones, mas hoje o inverso acontece.
Mais tarde, surge um grupo organizado para espetáculos, o qual alterou o sentido de dolência noturna das melodias. Esta realidade deve-se ao facto de não sentirem a serenata tal como ela deve ser e não serem das Furnas. Tal como o Fado de Coimbra ouvido numa casa de fados, é diferente ouvi-lo na Sé Velha.
Por outro lado, este facto projetou as serentas para outras áreas geográficas da ilha de São MIguel, fruto de um interesse em desenvolver algo, nascido no seio de uma Banda Filarmónica.
Bem hajam todos aqueles que participaram neste trabalho de recolha, sendo de realçar o meu sobrinho Álvaro Melo, pelo empenho na divulgação das “suas” serenatas.
José Manuel Oliveira Melo