Descrição

Romeiros
O que leva uma pessoa a fazer-se a uma jornada de cerca de trezentos quilómetros durante oito dias consecutivos, ao sol, ao frio, à chuva e ao vento só Deus sabe. Ninguém está fisicamente preparado para tal. É a oração e o espírito de grupo que os empurra para a frente.

Caminham serenamente, desde as quatro da madrugada até ao por do sol, sempre com o mar pela sua esquerda, pedindo a proteção de Maria nas igrejas, capelas e ermidas de toda a ilha. Uns vão para agradecer a Deus graças recebidas, outros para numa aflição pedir a ajuda do alto e outros ainda para se encontrarem consigo numa semana de intensa oração e sacrifício. Aquilo que os chamou à romaria está bem guardado no coração de cada um.

Vêm de todas as classes sociais e tratam-se por irmãos. Enchem as ruas com o mantra das Ave Marias, numa toada dolente, completamente alheados da azáfama do dia a dia. Rezam pelos familiares e amigos, pelos que gostam menos, por toda a humanidade.  Ao fim de três dias de privações libertam-se, já não estão cá. É a altura em que se encontram consigo, tal como realmente são, quando as máscaras já caíram.  

Cumprem uma tradição secular todos os anos renovada. Vão andando com o passo ligeiro deixando lágrimas furtivas no canto dos olhos dos transeuntes.

Ave Maria…

Aníbal Raposo